Escolas Infantis Ilha da Pintada e Santa Rosa
VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA
Hugo Segawa
Publicado na Revista Projeto n.172 – revistaprojeto.com.br
Em música, variação é um tipo de composição onde um tema já existente, geralmente de fácil compressão e com caráter bem determinado, é desenvolvido e renovado por meio de alterações melódicas, rítmicas ou harmônicas. Mas a variação surge também na exclusividade do universo musical. Com características próprias de procedimento para criação/projeto, está presente há muito tempo também na arquitetura. Por exemplo, Niemeyer elegeu as abóbadas, dentre outras estruturas arquitetônicas, e as vem estudando muitas vezes como variação sobre variação.
Ao desenvolver quatro escolas infantis municipais que refletissem o método construtivista de ensino, Flávio Kiefer optou por elaborar os projetos como variações sobre o mesmo conjunto de ideias, considerando as peculiaridades de cada terreno e seu entorno e, ao mesmo tempo, racionalizando os métodos e sistemas construtivos e os materiais empregados. Desde 1989, a teoria construtivista que se baseia principalmente no trabalho de Jean Piaget, vem sendo adotada pela prefeitura de Porto Alegre nas suas pré-escolas e colégios de 1º grau, de modo a reverter um quadro de estagnação e baixo aproveitamen to educacional.
Inicialmente, um grupo interdisciplinar formado pelo arquiteto e por profissionais da prefeitura se reuniu a fim de estabelecer parâmetros para o desenvolvimento dos edifícios. Nesses encontros, discutiam-se aspectos gerais do método construtivista, evidenciando, por exemplo, a importância dos elementos naturais – como a água, o fogo e a terra – na relação da criança com o mundo físico; a valorização do convívio social e também, em certos momentos, o direito à solidão; a necessidade de espaços variados; a diversidade de materiais, com texturas e ores próprias, funcionando como material didático. Com muitas informações em mãos, Kiefer montou de imediato e colocou em debate uma conceituação global, em vez de elaborar um desenho. Isso auxiliou também na definição do programa de necessidades mais adequado. Em seguida, apresentou um conjunto de croquis que acentuavam a imagem de caráter público da proposta.
No primeiro estudo, organizou-se o projeto com uma setorização nos moldes das escolas funcionalistas, separando as crianças por faixas etárias e acentuando os sanitários em único bloco. Essa proposta não foi aceita: chegou-se à conclusão de que seria mais interessante, em vez de separar as crianças menores das maiores em áreas bem caracterizadas, dispor os respectivos espaços de sala lado a lado, tendo como referência de certo modo a própria estrutura familiar. Como lembra Kiefer “apesar do funcionamento ter mudado, a imagem da escola permaneceu. A máxima da função gerando a forma nesse caso não é válida.” Situadas em bairros periféricos de Porto Alegre, as escolas Ilha da Pintada e Santa Rosa ilustram algumas das posturas e estratégias utilizadas. As volumetrias estão organizadas ao redor de pátio interno para múltiplas atividades, gerando, ao mesmo tempo, fachadas junto às divisas principais com destacado sentido urbano. Afastando-se das soluções monumentais que, em geral, desconsideram a cidade ao redor, busca-se resgatar a conformação da rua tradicional ou reforçar a importância do lugar público e sua urbanidade através do respeito às relações espaciais existentes.
Volumetrias diferenciadas e suas aberturas, em paralelo ao emprego de materiais e acabamentos igualmente variados, como tijolo, pedra, pastilha, tintas fosca e brilhante, estão planejadas para favorecer o aprendizado. Exteriores e interiores constituem espaços particulares bem definidos, opondo-se sobretudo às propostas de Mies van der Rohe de um contínuo espaço-tempo, dentro e fora. “A arquitetura deve caracterizar de modo claro os am-bientes, isso é psicologicamente importante: estar fora, na rua, é completamente diferente de estar dentro, na sala de aula”, destaca Kiefer. Finalizando cada composição arquitetônica, marca-se a entrada: o simbolismo expresso pelo frontão estilizado e pelas colunas sugere o caráter institucional da construção.
Projeto
- Flávio Kiefer
Localização
- Ilha da Pintada e Santa Rosa, Rio Grande do Sul
Área do Terreno | Área construída
- Ilha da Pintada | 832 m2
- Santa Rosa | 1.100 m2 | 952,5 m2
Ano
- Ilha da Pintada | 1991
- Santa Rosa | 1992
Colaboradores
- Arq. Carmen Nunes
- Estrutura | Simom Engenharia
- Elétrica e Hidráulica | Projele